sexta-feira, março 04, 2005

Faleceu o inventor do "futebol total"

A seguir à portuguesa, a minha selecção preferida é a holandesa. A razão é simples: a vitória no Euroepu de 88, cujas meias-finais e final tenho registadas em vídeo. Jogos esses aos quais assisti até à exaustão enquanto criança. Ainda hoje sei nomear, de memória, esse onze titular holandês: van Breukelen; van Aerle, Rijkaard, Ronald Koeman e van Tiggelen; Wouters; Vanenburg, Erwin Koeman e Mühren; Gullit e van Basten.

O Euro'88 foi a única grande conquista internacional da selecção holandesa. Mas quem a viu jogar, não se esquece da equipa finalista do Mundial de 1974, comandada por Johan Cruyff. Essa era a verdadeira laranja mecânica, que praticava o futebol total, assim denominado porque todos os jogadores atacavam e defendiam. Qualquer jogador podia desempenhar qualquer posição no terreno.

Denominador comum: o seleccionador Rinus Michels, cujo coração lhe pregou a última partida ontem, 3 de Março de 2005, aos 77 anos.

Rinus Michels chegou ao Ajax com 12 anos, em 1940. Tornou-se um avançado-centro de eleição, especialista no jogo áereo. Estreou-se pela 1ª equipa em 1946, frente ao ADO Den Haag, jogo em que marcou 5 vezes numa vitória por 8-3. Manteve-se no Ajax até 1958, quando se retirou devido a uma lesão nas costas, com um pecúlio de 120 golos no campeonato holandês. Foi internacional por 5 vezes.

Apesar da sua interessante carreira enquanto jogador, Michels destacou-se como treinador. Voltou ao Ajax em Janeiro de 1965 e salvou o clube da descida de divisão. Nas 3 épocas seguintes (65-66, 66-67 e 67-68) foi campeão holandês, feito que alcançou novamente em 69-70. Venceu a Taça da Holanda em 67, 70 e 71, último ano ao leme do Ajax e no qual venceu a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Era o início do futebol total.

Rinus Michels saiu no Verão de 71 para o Barcelona, onde conquistaria o título espanhol em 74. E nesse Verão orientaria a famosa laranja mecânica, de Ruud Krol, Arie Haan, Wim Jansen, Johan Neeskens, Rob Rensenbrink, Johnny Rep e, claro, Johan Cruyff.

Apesar da derrota na final com a selecção anfitriã (a R.F.A. de Sepp Meier, Berti Vogts, Franz Beckenbauer, Paul Breitner e Gerd Müller), foi a Holanda que brilhou, com o seu futebol atractivo e envolvente que ainda hoje perdura no imaginário de quem o presenciou e que é encarado como algo superior, inatingível, mítico por aqueles que, como eu, apenas o conhecem das imagens televisivas a preto-e-branco.

Depois de passagens pelos E.U.A. e pela Alemanha, Rinus Michels viria finalmente a vingar-se da R.F.A. em 1988, quando a Holanda derrotou os alemães, em solo germânico, nas meias-finais do Europeu, por 2-1, com um golo de van Basten no último minuto. A Holanda derrotaria a U.R.S.S. por 2-0 na final (com golos de Gullit e van Basten, este último o golo mais célebre de todas as edições do Europeu) e Rinus Michels conquistou finalmente um troféu ao mais alto nível pela selecção.

Após o Europeu de 1992, com a derrota da Holanda nas meias-finais, frente à futura campeã Dinamarca, nos penalties, o "General" (assim conhecido pelo queixo quadrado e pela postura séria, apesar de possuir um sentido de humor apuradíssimo) retirou-se do futebol. Afectado por problemas cardíacos, continuou a assistir ao vivo, sempre que possível, aos jogos caseiros do seu Ajax e a colaborar com a KNVB (federação holandesa de futebol) e com a UEFA.

Para aqueles que ainda não se aperceberam do impacto que Rinus Michels teve no futebol mundial, resta dizer que o holandês foi eleito pela FIFA, em 1999, como o Melhor Treinador do Século.

Fonte: www.uefa.com

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