quarta-feira, dezembro 24, 2008

Os três empatas

- O campeonato português tem cada vez menos golos (estamos na cauda das principais ligas europeias, com uma média miserável de 2,09 golos por jogo);
- Progressivamente, à medida que os anos vão passando, cada vez é mais difícil aos três grandes vencerem os jogos em casa, face a adversários menos cotados e menos dotados.

É com base nestes dois factos estatísticos, indesmentíveis, que por vezes acontecem fenómenos quase inexplicáveis como aquele que ocorreu nesta última jornada da Liga Sagres (última do ano civil de 2008): nulos caseiros, simultâneos, de Sporting, Porto e Benfica, contra equipas teoricamente menos apetrechadas.

Podem apontar-se como principais denominadores comuns a estas escorregadelas não só a tradicional ineficácia (ou precipitação) no momento da concretização, mas também a boa organização defensiva dos adversários, acentuada pela inspiração dos respectivos guarda-redes, sobretudo Peskovic, que assinou prestação magnífica no Alvalade XXI, ajudando sobremaneira a Académica a levar um sempre importante pontinho para Coimbra.

Esta última frase serve para introduzir outro tema fundamental, que explica parcialmente os tais dois factos estatísticos que enumerei no início deste post. Refiro-me concretamente à mentalidade da conquista do “sempre importante pontinho”, que é apanágio de quase todas as equipas que jogam no Dragão, no Alvalade XXI ou na Luz. A popular expressão do “estacionamento do autocarro à frente da baliza”, que voltou ao imaginário dos adeptos do futebol quando Mourinho a reciclou nos tempos do FCP, é seguida à laia de cartilha pela vasta maioria dos treinadores da nossa praça: defender bastante atrás, com marcações cerradas e apostar tudo num esporádico contra-ataque ou num eventual lance de bola parada.

As chamadas equipas pequenas têm vindo a aperfeiçoar este tipo de futebol e defendem cada vez melhor (à custa da aposta na organização ofensiva), o que torna o nosso futebol cada vez mais enfadonho. Os italianos dizem que defender é uma arte mas até na Serie A se marcam mais golos do que no nosso campeonato!

Finalmente, não posso deixar de criticar a falta de urgência com que sobretudo Benfica e Sporting atacaram este último jogo.

O Sporting deu a 1ª parte de avanço à Académica, parecendo aguardar que o golo caísse do céu (ou que Liedson inventasse qualquer coisa…) e só entrou verdadeiramente em ponto de ebulição aos 65 minutos, quando Paulo Bento se decidiu finalmente a abdicar do inócuo Romagnoli, apostando no regressado Vukcevic.

Mas o mais curioso é que o Benfica ainda conseguiu superar este “feito” do Sporting. Sabendo de antemão que os rivais tinham escorregado e que uma vitória aumentaria a vantagem face à concorrência, o Benfica bocejou durante 45 minutos e, quando se esperava que entrasse a todo o gás após o intervalo, viu o Nacional criar 3 oportunidades claríssimas de golo nos primeiros 10, 15 minutos do segundo tempo! E só aos 68 minutos e graças à lesão do super-inconsequente Di Maria (como é possível existirem grandes clubes europeus interessados nesta amostra de futebolista?!), é que Quique Flores abdicou do inócuo 4-4-2 clássico, apostando no 4-4-2 em losango, muito mais adequado às características dos jogadores disponíveis (não havia Reyes) e aquele que melhor poderia potenciar a criação de mais problemas ao esquema defensivo do Nacional (os três centrais continuavam a encaixar em Suazo e em Cardozo, mas os laterais deixavam de ter referências para marcar e os médios nacionalistas perdiam a superioridade numérica de que beneficiaram até então).

E depois, claro, ambos os jogos terminaram como esperado, ou seja, com Sporting e Benfica a tentarem resolver, com sofreguidão e em meia dúzia de minutos, aquilo que preferiram ir adiando durante os 60 minutos iniciais.

P.S.: Não comento o lance polémico do Benfica – Nacional. Quer Pedro Henriques tenha tomado uma decisão certa ou errada, considero-o o melhor árbitro português e acima de qualquer suspeita ao nível da sua integridade moral. O Benfica deveria ter procurado resolver o jogo mais cedo e devia abster-se de tentar disfarçar as péssimas opções de Quique Flores e a falta de motivação e de inspiração dos seus jogadores com a desculpa da arbitragem. É um puro fait-divers e, decididamente, o futebol português não precisa de outro Paulo Bento.

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