quarta-feira, dezembro 24, 2008

Os três empatas

- O campeonato português tem cada vez menos golos (estamos na cauda das principais ligas europeias, com uma média miserável de 2,09 golos por jogo);
- Progressivamente, à medida que os anos vão passando, cada vez é mais difícil aos três grandes vencerem os jogos em casa, face a adversários menos cotados e menos dotados.

É com base nestes dois factos estatísticos, indesmentíveis, que por vezes acontecem fenómenos quase inexplicáveis como aquele que ocorreu nesta última jornada da Liga Sagres (última do ano civil de 2008): nulos caseiros, simultâneos, de Sporting, Porto e Benfica, contra equipas teoricamente menos apetrechadas.

Podem apontar-se como principais denominadores comuns a estas escorregadelas não só a tradicional ineficácia (ou precipitação) no momento da concretização, mas também a boa organização defensiva dos adversários, acentuada pela inspiração dos respectivos guarda-redes, sobretudo Peskovic, que assinou prestação magnífica no Alvalade XXI, ajudando sobremaneira a Académica a levar um sempre importante pontinho para Coimbra.

Esta última frase serve para introduzir outro tema fundamental, que explica parcialmente os tais dois factos estatísticos que enumerei no início deste post. Refiro-me concretamente à mentalidade da conquista do “sempre importante pontinho”, que é apanágio de quase todas as equipas que jogam no Dragão, no Alvalade XXI ou na Luz. A popular expressão do “estacionamento do autocarro à frente da baliza”, que voltou ao imaginário dos adeptos do futebol quando Mourinho a reciclou nos tempos do FCP, é seguida à laia de cartilha pela vasta maioria dos treinadores da nossa praça: defender bastante atrás, com marcações cerradas e apostar tudo num esporádico contra-ataque ou num eventual lance de bola parada.

As chamadas equipas pequenas têm vindo a aperfeiçoar este tipo de futebol e defendem cada vez melhor (à custa da aposta na organização ofensiva), o que torna o nosso futebol cada vez mais enfadonho. Os italianos dizem que defender é uma arte mas até na Serie A se marcam mais golos do que no nosso campeonato!

Finalmente, não posso deixar de criticar a falta de urgência com que sobretudo Benfica e Sporting atacaram este último jogo.

O Sporting deu a 1ª parte de avanço à Académica, parecendo aguardar que o golo caísse do céu (ou que Liedson inventasse qualquer coisa…) e só entrou verdadeiramente em ponto de ebulição aos 65 minutos, quando Paulo Bento se decidiu finalmente a abdicar do inócuo Romagnoli, apostando no regressado Vukcevic.

Mas o mais curioso é que o Benfica ainda conseguiu superar este “feito” do Sporting. Sabendo de antemão que os rivais tinham escorregado e que uma vitória aumentaria a vantagem face à concorrência, o Benfica bocejou durante 45 minutos e, quando se esperava que entrasse a todo o gás após o intervalo, viu o Nacional criar 3 oportunidades claríssimas de golo nos primeiros 10, 15 minutos do segundo tempo! E só aos 68 minutos e graças à lesão do super-inconsequente Di Maria (como é possível existirem grandes clubes europeus interessados nesta amostra de futebolista?!), é que Quique Flores abdicou do inócuo 4-4-2 clássico, apostando no 4-4-2 em losango, muito mais adequado às características dos jogadores disponíveis (não havia Reyes) e aquele que melhor poderia potenciar a criação de mais problemas ao esquema defensivo do Nacional (os três centrais continuavam a encaixar em Suazo e em Cardozo, mas os laterais deixavam de ter referências para marcar e os médios nacionalistas perdiam a superioridade numérica de que beneficiaram até então).

E depois, claro, ambos os jogos terminaram como esperado, ou seja, com Sporting e Benfica a tentarem resolver, com sofreguidão e em meia dúzia de minutos, aquilo que preferiram ir adiando durante os 60 minutos iniciais.

P.S.: Não comento o lance polémico do Benfica – Nacional. Quer Pedro Henriques tenha tomado uma decisão certa ou errada, considero-o o melhor árbitro português e acima de qualquer suspeita ao nível da sua integridade moral. O Benfica deveria ter procurado resolver o jogo mais cedo e devia abster-se de tentar disfarçar as péssimas opções de Quique Flores e a falta de motivação e de inspiração dos seus jogadores com a desculpa da arbitragem. É um puro fait-divers e, decididamente, o futebol português não precisa de outro Paulo Bento.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Máquina cada vez mais oleada

O Porto está cada vez mais forte. Esta é a principal conclusão que se pode retirar da recente série de triunfos consecutivos. Desde a derrota na Figueira da Foz, com a Naval (no início de Novembro), o FCP disputou 9 partidas, das quais venceu 8, empatando apenas em Alvalade, para a Taça de Portugal (mas garantindo o apuramento nas grandes penalidades). Entrecortadas por êxitos nas competições internas estiveram ainda as vitórias em Kiev, em Istambul e sobre aquele conjunto de miúdos que veio disfarçado de Arsenal, que lhe valeram o 1º lugar no seu grupo da Liga dos Campeões. E enquanto não conhece o seu adversário nos oitavos-de-final desta competição, o Porto vai somando pontos no campeonato sem dificuldades de monta e já igualou o Leixões, com quem partilha a vice-liderança, a 2 pontos do Benfica.

Quais serão as razões para esta subida de forma?
- A defesa está mais sólida (apesar dos 7 golos sofridos nestes 9 jogos), algo potenciado pelo regresso à titularidade de jogadores como Hélton e Fucile, bem como pelo crescente entrosamento de Rolando com os seus novos colegas. Ainda assim, parece-me que Pedro Emanuel continua a não constituir a solução ideal para a lateral-esquerda;
- O crescimento de Fernando. O "menino" está a perder a vergonha e a assumir-se cada vez mais como o substituto natural de Paulo Assunção.
- A subida de forma de Rodríguez. O Cebola começa finalmente a justificar os milhões investidos directa (aquisição do passe e ordenado principesco) e indirectamente (aumento de ordenado oferecido a Lucho, de forma a colocar a remuneração d'El Comandante ao nível da do uruguaio) na sua contratação.
- Lisandro continua a ser igual a si próprio, abnegado, raçudo, inteligente. Adicionalmente, parece ter redescoberto o instinto goleador que ostentou na última época, do qual parecia estar algo afastado.
- Finalmente, e mais importante do que tudo o resto, a ascensão de Hulk. Como é que é possível Jesualdo Ferreira não ter apostado mais cedo e de forma mais decidida nesta força da natureza? Mariano Gonzalez, Tomás Costa, até Tarik Sektioui (ainda que de forma mais intermitente), todos eles dispuseram de oportunidades e minutos, muitos minutos. Mas nenhum deles, ou melhor, eu atrever-me-ia a dizer que todos juntos não produziram metade daquilo que este jovem brasileiro oriundo do campeonato japonês tem mostrado. Apesar de ainda denotar algum individualismo, Hulk tem deliciado os amantes do futebol com inúmeras arrancadas fulminantes e golos decisivos, fantásticos, dignos de figurar em qualquer ranking da especialidade.

Em suma, à medida que nos aproximamos do Natal (e de mais uma paragem do nosso campeonato), o Porto é claramente uma equipa em crescimento contínuo, em excelente momento de forma. Parece estar mais forte que a concorrência e, sobretudo, mais confiante.

Será o Benfica capaz de segurar a liderança na próxima jornada e assim passar o Natal e o Ano Novo na frente? Sinceramente, penso que sim. Contudo, creio que a época natalícia será bem mais tranquila na Torre das Antas e no Dragão do que na Segunda Circular.

domingo, dezembro 14, 2008

Zlatan, o mágico

Os prémios individuais estão na moda. Pudera, estamos no final do ano! Ele é a Bola d'Ouro. Ele é o prémio FIFA para o Jogador Mundial do Ano. E por aí fora. Os craques acotovelam-se para tentar chegar a uma destes distinções. Sim, já sabemos que este ano vai tudo para o Cristiano Ronaldo. Por muito que o Messi ande nas bocas do mundo, ou que os espanhóis reclamem por causa da vitória no Euro'2008.

Mas em Milão mora um artista da bola, que se calhar merecia maior atenção do que aquela que lhe dão. Não, não me estou a referir ao Kaká. Refiro-me a Zlatan Ibrahimovic, o recorrente salvador do Inter de Mourinho.

Desde que começou a época, em quase todos os jogos do Inter, lá aparece aquele momento mágico, em que o sueco toma a bola como uma extensão do seu corpo e encanta a plateia, seja com um golo de levantar o estádio, com um passe de morte ou com uma finta executada com a lentidão própria de alguém com a sua estatura, mas que, mesmo assim, deixa os adversários presos ao relvado.

2008 não foi propriamente, na sua globalidade, um ano vintage para Ibrahimovic. Mas é uma pena que estes recentes lampejos de genialidade não possam ser aproveitados para as consagrações individuais do final de 2009. Que pena estarmos ainda em Dezembro...

Montanha-russa de resultados... e adeus Taça

A euforia é um estado de espírito desaconselhável a qualquer equipa de futebol. E, no futebol português, o Benfica é o caso mais paradigmático de quão depressa bestiais jogadores ou treinadores se podem tornar em verdadeiras bestas.

Por isso, quer-me parecer que o Benfica de Quique Flores insiste nesta irregularidade de resultados precisamente para evitar euforias desmedidas, principalmente por parte dos seus dirigentes e dos seus adeptos. Luís Filipe Vieira é especialista em colocar a equipa de futebol nos píncaros, quer isso se justifique ou não. E quanto aos adeptos, todos sabemos que basta um resultado positivo num jogo complicado ou um score mais expressivo, para que logo qualquer título deixe de ser uma miragem, para passar a ser uma certeza insofismável.

Num terreno muito difícil e sob condições meteorológicas extremamente adversas, Leixões e Benfica protagonizaram o espectáculo possível, sempre emotivo, mas nem sempre de boa qualidade, sobretudo no prolongamento, à medida que o cansaço dos jogadores aumentava proporcionalmente ao medo de perder e na razão inversa à vontade de vencer sem recurso ao sempre ingrato desempate por penalties. O golo não apareceu, vieram os tais penalties e, como é normal acontecer nestas situações, falhou o jogador mais conceituado – Reyes.

E, cá está, imediatamente após a goleada infligida ao Marítimo, no Funchal, o Benfica vê-se eliminado da Taça de Portugal Millennium. É verdade que o sorteio não foi favorável, é verdade que o Benfica até nem jogou mal, é verdade que nenhuma das equipas merecia perder e é verdade que os penalties são sempre uma lotaria.

Mas também é verdade que, depois do desastre que foi a participação na Taça UEFA, o Benfica de Quique Flores vê fugir outro dos objectivos para 2008/2009. Sobram a Carlsberg Cup e a Liga Sagres, maior objectivo de qualquer época, em que o Benfica até acabou de agarrar a liderança, na entrada do 2º terço da competição.


Isto, claro, a não ser que aconteça um verdadeiro golpe de teatro na próxima quinta-feira…

terça-feira, dezembro 09, 2008

O passeio dos alegres (vezes 3)

Três jogos na condição de visitantes, três campos tradicionalmente favoráveis, três passeios. De facto, os três grandes da nossa Liga Sagres saíram à rua no último fim-de-semana e fizeram três calmas excursões.

Primeiro, o Sporting e a sua curta deslocação à Amadora. Em 15 participações anteriores no escalão máximo do futebol português, o Estrela apenas contava uma vitória e 5 empates, nas recepções ao Sporting (contra 9 derrotas). Se à tradição juntássemos todos os problemas de salários em atraso (e sua mediatização) que o Estrela tem atravessado, provavelmente a deslocação à Reboleira seria a ideal para o Sporting alcançar a sua 3ª vitória consecutiva no campeonato. E mesmo com o revés do golo sofrido logo no início – mais um com “marca Rui Patrício”, bastou ao Sporting o Liedson do costume e alguma “sorte” (resposta quase imediata ao golo sofrido, o remate de Anselmo ao poste que poderia ter dado o 2-1 ainda na 1ª parte e o golo feliz, da tranquilidade, do regressado Vukcevic), para somar 3 pontos relativamente fáceis e pressionar Porto, Benfica… e Leixões.

Depois, o Porto e a visita ao Bonfim, casa de vários jogadores que têm ou tiveram ligação contratual aos dragões, como Bruno Vale, Sandro, Elias, Bruno Gama, Leandro Lima e Bruno Moraes, algo que tem sido comum nos últimos anos. Historicamente, dos 3 grandes, o FC Porto era a equipa que alcançara maior número de êxitos nas visitas ao Vitória de Setúbal (16 vitórias em 60 épocas). O FC Porto era igualmente a única equipa que vencera todas as 4 deslocações ao Bonfim, desde que o Vitória subiu à 1ª Divisão pela última vez, em 2003/2004. E este era um desafio em que o Porto não podia perder pontos, sob pena de se atrasar face aos concorrentes directos, principalmente devido à barreira psicológica que o jogo em atraso pode constituir (e os 3 pontos que dele podem advir, ou não…). Os dragões não foram eloquentes na 1ª parte, mas souberam impor a sua categoria à medida que a partida foi avançando, acabando por vencer naturalmente e por uma margem que quase cheirou a goleada.

E aproveitando o tema “goleada”, chegamos à viagem do Benfica ao Caldeirão dos Barreiros. Em 28 presenças do Marítimo no campeonato principal, o Benfica até era a equipa “grande” que menos vezes (10) ganha nos Barreiros, mas a sua última derrota naquele estádio já datava da época 2001/2002. Pressionado pelas vitórias dos rivais e pelos últimos resultados, por sinal bastante negativos (empate caseiro com o Vitória de Setúbal e a pesada derrota em Atenas), mas impulsionado pelos regressos de Luisão e de Aimar, pela mudança na baliza e, quiçá, pelo facto de ter jogado antes do Leixões, o Benfica entrou forte na partida e procurou resolvê-la cedo. Apesar de Aimar continuar distante daquilo que dele se espera, Reyes e Suazo voltaram a demonstrar que estão bem acima da qualidade média desta Liga Sagres (tal como Lucho, Liedson ou Lisandro, por exemplo) e dinamitaram a anterior melhor defesa da Liga. Contudo, o Benfica até abrandou bastante o ritmo na 2ª parte e o resultado final acaba por ser exagerado, tendo sido alicerçado nos 3 golos obtidos nos últimos 10 minutos, quando os jogadores do Marítimo já tinham “desligado”.

Finalmente, quero salientar novamente a brilhante campanha do Leixões, no momento em que perdeu a liderança do campeonato. Os bravos de Matosinhos até podiam perfeitamente ter vencido em Guimarães, caso tivessem aproveitado uma das várias oportunidades de que dispuseram, mas a forma efusiva como Manuel “D. Afonso Henriques” Cajuda festejou aquela vitória sofrida, ilustra bem a motivação extra com que, hoje em dia, qualquer equipa enfrenta o Leixões. No momento da derrota, aqui fica uma palavra de solidariedade para com José Mota e seus pupilos, na esperança de que se consigam manter na luta pelos lugares cimeiros até ao final do campeonato.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Parabéns, Cristiano Ronaldo!

Vaidoso? Sim. Convencido? Também. Imaturo? Muito. Melhor futebolista do Mundo durante 2008? Inquestionavelmente.

Pois é, o nosso Cristiano Ronaldo lá ganhou a Bola de Ouro. É, na minha opinião, um galardão justo para o jogador que mais se distinguiu ao longo do ano. Independentemente de todos os defeitos da sua personalidade e apesar do final de ano espectacular de Messi, da excelente época de Torres no Liverpool e do brilhante Euro’2008 de Xavi, Cristiano Ronaldo foi o mais regular ao longo do ano.

Ora vejamos:
- pelo Manchester United venceu a Premier League e a Champions League;
- foi considerado o melhor jogador da liga inglesa, quer pelos jornalistas ingleses, quer pelos colegas de profissão. Foi também o melhor marcador, com 31 golos, tendo sido apenas a quarta vez que a barreira dos 30 golos foi ultrapassada numa das 16 edições da Premier League. Ronaldo igualou a marca de Alan Shearer, conseguida em 1995/1996 ao serviço do Blackburn Rovers, mas não logrou alcançar os 34 golos de Andy Cole (Newcastle, 1993/94) e novamente Alan Shearer (Blackburn, 1994/95), sendo que estas duas últimas marcas foram conseguidas em 42 jornadas, ao invés das actuais 38.
- os 31 golos na Premier League valeram-lhe a conquista da Bota de Ouro, o prémio para o melhor marcador dos campeonatos europeus. Importa realçar que Cristiano Ronaldo não é um avançado puro. Mas o que é certo é que marca de bola corrida e de bola parada, com o pé direito ou o esquerdo, de cabeça após cruzamentos, de livre directo, de penalty, enfim… até de calcanhar marcou este ano!
- Na Liga dos Campeões, foi considerado o melhor jogador e o melhor avançado, pela UEFA. Apesar de ter falhado um penalty em Camp Nou, na 1ª mão da meia-final com o Barcelona e outro em Moscovo, no desempate da final com o Chelsea, Cristiano Ronaldo foi o melhor marcador da competição, com 8 golos, tendo inclusivamente apontado o golo da sua equipa nessa mesma final.

Por tudo isto, penso que lhe podemos perdoar os fracos desempenhos ao serviço da nossa selecção. Convenhamos que esse é o principal factor que tem influenciado negativamente a opinião de alguns portugueses relativamente a Ronaldo. No fundo, parece-me que ainda não aprendemos a lidar convenientemente com o sucesso do “nosso” Cristiano, ao contrário, por exemplo, daquilo que acontece com José Mourinho.

Parece-me que o Ronaldo tem andado muito nervoso nas últimas semanas, precisamente por causa destas distinções individuais de final de ano. Antes do Euro 2008 ele era o único candidato a todos estes prémios. O Euro não lhe correu bem (jogou lesionado), os espanhóis aparentaram entrar em força nesta luta, surgiu a lesão no tornozelo e respectiva paragem prolongada e o folhetim da “transferência” para o Real Madrid só prejudicou a sua imagem. Depois vieram os Jogos Olímpicos e o brilho de Messi, que alegremente teima em não desvanecer (para gáudio de todos os adeptos do futebol). O regresso de Ronaldo após a lesão até foi bem-sucedido, mas provavelmente o madeirense terá pensado que os prémios individuais que tanto ambicionava poderiam escapar-lhe entre os dedos. E sentiu demasiado essa pressão (o que não abona nada em seu favor, diga-se).

Agora que já conquistou a Bola de Ouro (e com uma votação categórica), a sua confiança estará de novo nos píncaros e será apenas uma questão de tempo até ser distinguido como o Melhor Futebolista do Mundo de 2008, pela FIFA. Só o saberá em Janeiro, pelo que poderá aproveitar o Campeonato do Mundo de Clubes, que se joga ainda este mês e que é organizado precisamente pela FIFA, para cimentar a sua candidatura.

P.S.: Em vez de se regerem pelo ano civil, não fará mais sentido atribuírem-se estas distinções no final de cada época futebolística? Não permitirá uma avaliação mais rigorosa e correcta acerca dos desempenhos dos jogadores?

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Recuo excessivo e seus efeitos secundários

Numa altura em que Quim atravessava um período menos bom e em que Moreira mostrou que era alternativa válida, jogoteclado sugeriu uma alteração na baliza do Benfica. Quique Flores optou por manter Quim como titular, com a legitimidade de quem acompanha o jogador diariamente. Contudo, o experiente guarda-redes não só não conseguiu sacudir a má forma, pontuada por um ou outro erro, como ainda acabou por entrar numa espiral de golos sofridos em catadupa, muitos deles com culpa própria, tanto na Selecção Nacional como no Benfica.

E agora? Se Quique Flores entregar a titularidade a Moreira no próximo jogo, tal será visto como um castigo a Quim; se o espanhol mantiver a sua aposta no actual titular, revelará teimosia e notória falta de confiança nos restantes guardiões do plantel. Mantenho a minha opinião inicial: Moreira merece uma oportunidade, ainda para mais na actual conjuntura, em que se impõe resguardar e acalmar um guarda-redes que já deu muito ao clube e ao futebol português.
Mas o principal problema do Benfica no jogo com o Vitória de Setúbal esteve no recuo excessivo da equipa. Não imediatamente após o 2-1, período em que a equipa continuou a criar oportunidades de golo (chegou mesmo a marcar…), mas nomeadamente nos últimos minutos. E um Vitória de Setúbal em perda física e anímica no jogo foi suficiente para reavivar a tendência masoquista do Benfica, que insiste em remeter-se à sua defesa para tentar segurar vantagens mínimas. Foi assim em Paços de Ferreira (no célebre 3-4), em Matosinhos (2 pontos perdidos a acabar), em Guimarães (limitado pela expulsão de Reyes) e, ainda mais estranhamente, na Luz, contra Naval (1-1 sofrido já nos últimos minutos, a que o Benfica ainda respondeu com um golo de Cardozo), Estrela da Amadora (1-0 muito sofrido) e agora Vitória de Setúbal.


Antes de mais não creio que sejam resquícios da goleada em Atenas, nem que a equipa se esteja a ressentir da ausência de jogadores lesionados, dado que este recuo com o Vitória não foi situação virgem. Penso que parte do problema passará pela deficiente preparação física da equipa (o que é estranho, dado que Pako Ayesteran é reconhecidamente um dos melhores do mundo). Mas, quanto a mim, a questão fundamental é de índole táctica. Este 4-4-2 clássico ainda não está suficientemente oleado, mormente a meio-campo, já que a ocupação de espaços não é claramente a mais correcta (Carlos Martins tem que melhorar a nível táctico e Reyes raramente ajuda a defender).

Penso que o esquema que mais se adequa a este Benfica seria o 4-3-3, sobretudo aos jogadores que iniciaram a partida com o Vitória: Katsouranis atrás de Rúben Amorim e Carlos Martins, Suazo na direita, Reyes na esquerda e Cardozo no meio. Com todo o plantel operacional, o meio-campo deveria assentar num triângulo invertido, com um duplo-pivot constituído por Yebda e Katsouranis ou Rúben Amorim, atrás de Aimar.

Outra hipótese plausível, esta já ensaiada por Quique Flores, será o losango, mas que só faz sentido com Aimar recuperado. Neste cenário, a dúvida seria o posicionamento de Reyes. Mas penso que, consoante o adversário, Reyes tanto poderia ser interior-esquerdo (na linha do que Izmailov faz no Sporting), como constituir a dupla atacante ao lado de David Suazo.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Mão-cheia de golos no Pireu

(nota prévia: este post foi escrito antes do Benfica - Vitória de Setúbal, não tendo sido publicado anteriormente por impossibilidade de ligação à internet)

É certo que já passaram alguns dias, mas ainda me custa admitir que o Benfica “apanhou” cinco do Olympiacos. O Olympiacos é o crónico campeão da Grécia nos últimos anos (no fundo, é o equivalente grego ao F.C.Porto das últimas décadas em Portugal), mas até nem tem um conjunto de jogadores propriamente brilhante. Aliás, no papel, a equipa do Olympiacos é manifestamente inferior, por exemplo, ao Galatasaray. E esses, sim, passearam a sua classe no Estádio da Luz, apesar das várias baixas que, na altura, limitavam o conjunto turco.

Na realidade, se analisarmos friamente o jogo de Atenas, o resultado não espelha de todo o que se passou no relvado. O Olympiacos não sufocou o Benfica e a equipa lusitana até teve algumas ocasiões de golo, mas…

Claro que o golo aos 40 segundos condicionou, e muito, o desenrolar da partida, mas 5 remates em mais de 50 minutos não representam um caudal ofensivo por aí além. Contudo, como é que se pode contrariar uma equipa que materializa esses 5 remates em 5 golos?

Por norma, Luisão é um jogador amplamente criticado, quer pela comunicação social, quer pelos próprios adeptos do Benfica. Os seus maiores defeitos serão a falta de velocidade e de “rins”. Até certo ponto, não posso deixar de concordar. Muitos dirão que a melhor dupla de centrais do Benfica será aquela que jogou em Atenas. No futuro, talvez assim seja. Mas esta débacle defensiva não pode ser dissociada da ausência do internacional brasileiro. A Sidnei e David Luiz sobram talento, mas ainda faltam maturidade e experiência. David Luiz, sobretudo, saiu da sua posição várias vezes, com e sem bola, originando autênticas “crateras” no centro da defesa benfiquista.

O fraco desempenho dos centrais foi ainda acompanhado por Jorge Ribeiro e Quim, sendo que este último assinou provavelmente uma das piores exibições da carreira. O guarda-redes continua em mau momento de forma, demonstrando péssimo posicionamento no 4º e no 5º golo, isto para além de ter andado aos papéis no 1º golo e de ter deixado a sensação de que poderia ter feito mais no 2º. E no meio-campo, a “indisponibilidade” de Katsouranis forçou a aposta de Quique Flores no esforçado Binya, que continua sem conseguir disfarçar a sua gritante falta de talento.

Posto isto, o Benfica está praticamente eliminado da Taça UEFA e não há como escamotear o rotundo falhanço em que se está a saldar esta participação europeia. Com reforços sonantes e de dimensão internacional, como Reyes, Aimar e Suazo, esperava-se mais da equipa, restando agora esperar pela conjugação certa de resultados na próxima jornada (em que o Benfica folga). E mesmo que tal suceda, até uma goleada ao Metalist (que venceu no terreno do Galatasaray, o tal que venceu com justiça e com clareza na Luz) pode não ser suficiente para permitir o apuramento para a próxima fase.

O mais curioso é que a quase eliminação da Taça UEFA antecede a possibilidade do Benfica liderar a Liga Sagres, bastando para isso vencer o Vitória de Setúbal, na Luz. Na ressaca de uma derrota histórica e com a pressão adicional de ter que aproveitar o empate do Leixões, será o Benfica capaz de esquecer o que se passou na Grécia?

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